No momento em que o país atinge a marca de 300 mil mortos por Covid-19 – sendo que pouco mais de cem mil ocorreram em menos de três meses – e o caos sanitário está instalado no país, juntamente com o crescimento do desemprego e da crise econômica, “falar de Bolsonaro e gestão é contradição em termos. O presidente nunca geriu nada, limita-se o tempo todo a fazer política da mais baixa qualidade visando apenas à reeleição”, diz Rubens Ricupero, ex-ministro da Fazenda e diplomata, em entrevista concedida ao Instituto Humanitas Unisinos – IHU. Na avaliação dele, a atuação do presidente “se resumiu a cumprir o programa que anunciou desde o início: destruir, desconstruir o que se fez, jamais construir algo de novo”.

Ao comentar as crises instaladas no país, o filósofo Roberto Romano constata que “não existiu nem existe ‘gestão’ das crises vividas no Brasil. Gestão supõe um aparato administrativo capaz de prever, enfrentar, reunir forças mecânicas, técnicas, humanas e também espirituais em batalhas pela sobrevivência coletiva”. Segundo ele, “por motivos históricos o Brasil possui máquinas de governança emperradas pela excessiva centralização decisória no plano federal em detrimento dos Estados e municípios”. Na última eleição presidencial, lamenta, “na máquina enlouquecida colocamos um indivíduo sem o mínimo senso de responsabilidade, a mais leve noção do necessário dever, desprovido de saberes básicos em matéria científica, humanística”.

Já na opinião do sociólogo Rudá Ricci, as crises demonstram que “Jair Bolsonaro é absolutamente incapaz de governar o país. Não consegue ter sucesso na área econômica, na política econômica, nas políticas sociais como um todo, na área diplomática, enfim, é um desastre evidente que está colocando o Brasil numa situação de descrédito nacional e internacional”.

Na entrevista a seguir, Rubens Ricupero, Roberto Romano e Rudá Ricci também comentam as possibilidades para sairmos das crises atuais, tendo em vista as próximas eleições. “A situação brasileira é uma corrida contra o tempo. As oposições devem ser céleres mantendo a mente alerta, nutrida de saberes e capacidade de aglutinação”, conclui Romano.

Roberto Romano é professor aposentado de Ética e Filosofia na Universidade Estadual de Campinas – Unicamp. Cursou doutorado na École des Hautes Études en Sciences Sociales – EHESS, França. Escreveu, entre outros livros, Igreja contra Estado. Crítica ao populismo católico (São Paulo: Kairós, 1979), Conservadorismo romântico (São Paulo: Ed. Unesp, 1997), Moral e Ciência. A monstruosidade no século XVIII (São Paulo: SENAC, 2002), O desafio do Islã e outros desafios (São Paulo: Perspectiva, 2004) e Os nomes do ódio (São Paulo: Perspectiva, 2009).

Rubens Ricupero é graduado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo – USP. Diplomata de carreira desde 1961, exerceu, dentre outras, as funções de assessor internacional do presidente Tancredo Neves (1984/1985), assessor especial do presidente da República José Sarney (1985/1987), representante permanente do Brasil junto aos órgãos da ONU sediados em Genebra (1987-1991) e embaixador nos Estados Unidos (1991-1993). Ricupero foi ministro do Meio Ambiente e da Amazônia Legal e da Fazenda no governo Itamar Franco. Foi também embaixador do Brasil na Itália e secretário geral da UNCTAD, órgão da ONU, deixando o cargo em setembro de 2004, quando se aposentou como diplomata. É autor, entre outros, de A diplomacia na construção do Brasil, 1750-2016 (Rio de Janeiro: Versal, 2017) e  O Brasil e o dilema da globalização (São Paulo: Editora Senac, 2001).

Rudá Ricci é graduado em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUCSP, mestre em Ciência Política pela Universidade Estadual de Campinas – Unicamp e doutor em Ciências Sociais pela mesma instituição. É diretor geral do Instituto Cultiva, professor do curso de mestrado em Direito e Desenvolvimento Sustentável da Escola Superior Dom Helder Câmara e colunista político da Band News. É autor de Terra de Ninguém (Ed. Unicamp, 1999), Dicionário da Gestão Democrática (Ed. Autêntica, 2007), Lulismo (Fundação Astrojildo Pereira/Contraponto, 2010) e coautor de A Participação em São Paulo (Ed. Unesp, 2004), entre outros.

Confira a entrevista clicando aqui.

 

Entrevista publicada no site do Instituto Humanitas Unisinos em 25/03/2021.