“Não se fica grande por dar pulos […] O Japão não precisou pedir que o reconhecessem grande potência, desde que mostrou sê-lo.” Foi em agosto de 1907 que Joaquim Nabuco confiou ao diário essa anotação. Vinha ela a propósito da decepção brasileira na conferência de Haia, apesar do brilho da participação de Rui Barbosa.

O comentário poderia ter sido repetido em 1926, data de hoje, desaniversário (parafraseando “Alice no País das Maravilhas”) da retirada do Brasil da Sociedade das Nações.

O discurso de Afrânio de Melo Franco em Genebra foi impecável na força dos argumentos jurídicos e políticos. Praticamente sem retoques, poderia ser repetido agora na defesa de composição mais equilibrada do Conselho de Segurança da ONU. De nada serviu, contudo, a razão do discurso confrontada às realidades do poder.

O interesse das grandes potências europeias era, na época, reconciliar a Alemanha de Weimar à nova ordem criada após o fim da Primeira Guerra Mundial, integrando-a como membro permanente ao conselho da Liga.

O Brasil, que, exceto uma vez, havia sido sempre eleito com grandes votações como membro temporário, decidiu reclamar ingresso definitivo.

Outros países se animaram igualmente -Polônia, Espanha, China-, criando-se o impasse. Foi então que o governo brasileiro cometeu erro tático irremediável: vetou a aprovação da Alemanha, presumindo demais de suas forças. A situação não havia sido prevista na Carta e gerou crise sem precedentes.

O desafio soava como um “”straga-festa” no momento em que os delegados alemães eram recebidos em triunfo na estação de Genebra. A reação dos poderosos não se fez esperar: o país recalcitrante deveria ser excluído do conselho. Ameaçado dessa pública humilhação, o Brasil se antecipou e retirou-se do conselho e da Liga.

Como foi possível que a diplomacia herdeira da moderação e do sábio calculismo do barão do Rio Branco tivesse se aprisionado numa posição da qual não existia saída respeitável? A culpa não era da diplomacia, mas da política interna.

Vendido à opinião pública como inseparável do prestígio nacional pelo governo impopular de Artur Bernardes, o posto permanente no conselho passava a ser um absoluto inegociável. Trocava-se o realismo de um pleito razoável, a ser conquistado de modo gradual, por aventura na qual o destino de uma política seria decidido na base do tudo ou nada.

O episódio serve não para enfraquecer a firmeza com que se deve continuar a reclamar para o Brasil o lugar representativo que lhe cabe na direção dos assuntos mundiais. A lição a tirar desse aniversário frustrado é a de que nossa legítima aspiração há de se conquistar não pela vazia busca de prestígio e protagonismo, com intenções políticas internas.

“Não é dando pulos” que seremos reconhecidos. O Brasil deve se impor por meio dos méritos de uma diplomacia que seja força de moderação, sem excessos que gerem reações hostis. A chave do nosso êxito está em demonstrar que somos um país capaz de construir consensos por não possuirmos veleidades hegemônicas nem aspirações de domínio.

Artigo publicado na Folha de S. Paulo em 12/06/2011.