Entrevista com Rubens Ricupero
30/03/2021, UOL

 

O diplomata e ex-ministro da Fazenda Rubens Ricupero disse, em entrevista à revista Época, que Ernesto Araújo foi um “executor fiel” do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e deixou o comando do Itamaraty pelo “conjunto da obra”.

Para Ricupero, o ex-chanceler “tem muita culpa”, mas é preciso cuidado para “não transformá-lo em um espírito do mal” do governo.

“Os ataques recaíram sobre ele porque ele é um cachorro morto, que todos podem dar pontapés. Se há uma coisa que não se pode dizer é que ele não agiu com lealdade. Ele foi um executor fiel do presidente até o fim”, disse.

Neste cenário, Rubens Ricupero atribui a queda ao “conjunto da obra, pela totalidade do que fez”. Assim, em sua visão, a versão de que sofreu pressão em relação à tecnologia 5G serviu apenas de pano de fundo para a sua saída.

“A versão criada foi para que ficasse bem com os seguidores do Olavo de Carvalho, seu guru, disse Ricupero, referindo-se à mensagem de Twitter do ex-chanceler dizendo que a senadora Kátia Abreu (PP-TO) fez um suposto lobby a favor da China em um encontro entre os dois.

A manifestação de Ernesto no fim de semana gerou forte reação de senadores. Ontem pela manhã, o ex-chanceler pediu demissão. Durante a tarde, foi confirmada a sua substituição por Carlos Alberto Franco França.

“Descolamento da realidade”

Para Ricupero, um balanço da gestão de Ernesto Araújo à frente do Itamaraty não pode ser dissociada de Bolsonaro.

“O primeiro grande erro não se deve apenas a Ernesto Araújo, mas ao presidente: o descolamento da realidade do Brasil e do mundo”, disse Ricupero.

Para o diplomata, a partir dessa visão de mundo, foi feito “um diagnóstico errado e uma terapêutica absurda” que culminou em uma “lista de erros interminável”.

O maior erro, em sua visão, foi a relação com a China. “Em ordem de importância, o governo começou hostilizando a China. O chanceler fez isso, mas não foi o único. Eduardo Bolsonaro , e o próprio presidente cometeram erros maiores. Todos antagonizaram muito com um país, que já foi muito humilhado por Ocidentais mas hoje não leva desaforo para casa”, disse.

 

Entrevista publicada no portal UOL em 30/03/2021. Clique aqui para acessar a publicação original.