Eliane Oliveira, O Globo
07/10/2020

 

Segundo especialistas ouvidos pelo GLOBO, se não forem tomadas medidas concretas para reduzir a devastação da floresta amazônica, os mercados vão se fechar para o Brasil. Um dos maiores críticos da atual política externa brasileira, o diplomata e ex-ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, não poupa Bolsonaro nessa questão:

– O presidente Bolsonaro está fazendo o jogo dos lobistas europeus, que veem nele o presidente do Brasil dos sonhos.

Para ele, o governo brasileiro tem uma política ambiental que desafia críticas, o que pode causar problemas com parceiros como os Estados Unidos, o Canadá, o Japão e o Reino Unido. No primeiro caso, explicou Ricupero, existe a possibilidade concreta de o democrata Joe Biden vencer o presidente Donald Trump na eleição de novembro.

Durante um debate com Trump, Biden já avisou que o Brasil poderá sofrer sanções econômicas por causa do desmatamento.

Os canadenses estão retomando as negociações para um acordo de livre comércio com o Mercosul e podem criar problemas nesse processo. E o Reino Unido estuda punições para importadores que comprarem produtos oriundos de áreas recentemente desmatadas no Brasil.

– O Brasil estava tentando negociar acordos com vários países e agora não vejo muita perspectiva de que isso possa acontecer. Mesmo o Reino Unido, que deixou a UE, também analisa a adoção de medidas para que nenhuma importação do Brasil se origine de áreas recentemente desmatadas. Todos os mercados estão se fechando – disse.

O consultor internacional e ex-secretário de Comércio Exterior, Welber Barral, defende a adoção de novas medidas na área ambiental, para que o Brasil não tenha problemas em aprovar o acordo com a UE. Barral acredita que, mesmo que a votação no Parlamento Europeu tenha sido simbólica, é um alerta de que a situação pode piorar.

– Embora seja uma votação simbólica, ela reflete a crescente relevância do tema ambiental na agenda política europeia. Sem um esforço do Brasil em implementar medidas concretas e melhorar sua imagem, o acordo dificilmente avançará no futuro visível – afirmou.

Presidente do Instituto de Relações Internacionais e de Comércio Exterior (Irice) e ex-embaixador do Brasil nos EUA e no Reino Unido, Rubens Barbosa lembrou que o acordo com o bloco europeu está dividido em três partes: a política, a econômica e a comercial. Segundo ele, a Comissão Europeia está tentando desvincular a parte comercial, para que apenas os dois outros segmentos sejam votados pelo Parlamento.

– Do ponto de vista comercial, poderá não ter qualquer efeito, A própria Comissão Europeia quer separar a parte comercial, depois que o Parlamento votar os outros dois temas – disse ele.

Matéria publicada no jornal O Globo em 07/10/2020. Clique aqui para ler a publicação original.