Quase no mesmo dia da semana passada em que os líderes europeus se reuniam em Turim sob a sombra de um desemprego que afeta 18 milhões dos seus cidadãos, a Organização Mundial de Comércio (OMC) revelava que a União Européia, tomada em conjunto, liderava o comércio mundial de mercadorias, com 20% do total.

Outro contraste: dos três países (Estados Unidos, Alemanha e Japão) que no ano passado ocuparam os primeiros postos do comércio, os dois últimos tiveram crescimento econômico lento e declinante ou nulo.

Finalmente, o comércio continuou a expandir-se a uma taxa que é mais do que o dobro do aumento da produção mundial _8% em 1995 e 7% previstos para este ano.

Mantém-se, portanto, a tendência que tem levado a constantemente acentuar o grau de integração e globalização da economia.

O que não resulta necessariamente em acelerar-lhe a expansão, que tem sido de fraca a moderada nas economias mais globalizadas e avançadas: americana, alemã e japonesa.

Já no outro extremo, os países asiáticos de melhor desempenho no comércio exterior e, por conseguinte, os maiores beneficiários da globalização são também os de crescimento econômico mais rápido.

Esses fatos mostram que, se a expansão e a globalização do comércio constituem condições necessárias à aceleração econômica, elas não são, por si sós, condições suficientes _haja vista a diversidade de resultados entre países industrializados, de um lado, e os tigres asiáticos, do outro.

Até data recente, a demanda dos industrializados era vista como a locomotiva que determinava a velocidade do resto da economia mundial.

Isso pode estar mudando devido à emergência da Ásia, mas ainda é razão bastante para justificar o exame das razões responsáveis pelo lento crescimento dessas economias, apesar da sua contínua liderança no comércio e no processo da globalização.

Braudel pensava que, a partir do choque do petróleo de 73, havíamos entrado na fase de crepúsculo de um dos “ciclos seculares” do capitalismo, o que começara em 1896 e atingira o apogeu entre 1946 e 1973.

Nada havia a fazer a não ser tocar um tango argentino e esperar a subida de novo ciclo após o ano 2000.

Os que não se resignam ao fatalismo dos ciclos vão encontrar a explicação do crescimento lento nas políticas macroeconômicas.

Em reação contra a inflação dos anos 70, os governos adotaram metas monetaristas de eliminação da inflação e dos déficits.

A presunção era a de que, saneada a economia e encolhido o Estado, os recursos liberados estimulariam os investimentos, o aumento da oferta e, consequentemente, o crescimento da economia.

Infelizmente, as forças de mercado não foram capazes, em muitos casos, de provocar espontaneamente essa aceleração. Foi o que se viu, por exemplo, em 1986, quando o choque reverso do petróleo trouxe maiores lucros, mas não o crescimento esperado.

A razão é, uma vez mais, o fator nem sempre presente nas equações dos economistas: o homem e suas imprevisíveis reações psicológicas.

Em última análise, é a confiança das pessoas na economia que condiciona os investimentos, e estes, por sua vez, determinam se o crescimento será maior ou menor.

É por isso que hoje, no Japão, na França e na Alemanha, volta-se a estimular a demanda e desencorajar a poupança com métodos que Keynes aprovaria.

Afinal de contas, a recuperação do dinamismo perdido das economias avançadas depende, acima de tudo, da confiança humana no futuro ou, em outras palavras, da esperança.

Artigo publicado na Folha de S. Paulo em 06/04/96.