A qualidade dos recursos humanos está diretamente vinculada à qualidade das instituições e até ao nível de corrupção dos países. Essas idéias abriram o 32º Conarh, com a participação especial de Rubens Ricupero, ex-ministro da Fazenda (1994) e do Meio Ambiente (1993), ex-secretário geral da Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Unctad) e atual diretor da Faculdade de Economia e Relações Internacionais da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap).

A própria governabilidade das nações estaria em jogo, como os recentes escândalos de corrupção no País teriam mostrado, afirmou Ricupero. Segundo ele, os dez países menos corruptos do mundo da lista da ONG Transparência Internacional (Islândia, Finlândia, Nova Zelândia, Dinamarca, Cingapura, Suécia, Suíça, Noruega, Austrália e Áustria) dão destaque à educação e bem-estar de seus cidadãos. “A atenção e a melhoria do homem devem ser a mola central dos governos. O desenvolvimento não é apenas riqueza material, de renda, mas também um processo de educação contínua.”

A sociedade da informação – hoje reduzida a um clichê, para Ricupero – deve ser encarada como um fenômeno irreversível, e o conhecimento, como fator essencial de competitividade. “A informação organizada gera o conhecimento. E não há um setor da economia moderna, mesmo os mais tradicionais, como a agricultura, que viva hoje sem conhecimento.” O conhecimento seria, então, a tarefa de gerir sociedades complexas, acrescentou. “O desenvolvimento vai estar baseado na qualidade dos recursos humanos, que serão capazes de gerir complexidade.”

Em outra análise, Ricupero discutiu o quadro curioso apresentado pelo Brasil. “São ilhas de excelência separadas por profundos golfos de ineficácia. O desenvolvimento tem de ser estendido a todos os setores da sociedade”, argumentou.

Ao tratar da educação no País, o ex-ministro afirmou já termos passado da fase de pensar em quantidade. “É preciso melhorar a qualidade, em especial da escola pública, e inserir maior flexibilidade no ensino, com mudanças curriculares e de grade horária e introdução de novos cursos.” Mas fez uma ressalva: não se deve vender educação como solução mágica. “Educação por si própria não faz milagres. Ela tem de fazer parte de um projeto integral de sociedade.”

Matéria publicada no jornal O Estado de S. Paulo em 31/08/2006.